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Leia o artigo de Mário Rosa publicado na Folha de S. Paulo

Leia o artigo de Mário Rosa publicado na Folha de S. Paulo

O presidente nunca pode estar certo?

*Mario Rosa

Jair Bolsonaro não pode ser acusado de fascista, golpista e antidemocrata e, ao mesmo tempo, ao atrair um político experiente e presidente de um partido tradicional, receber a pecha de “contraditório”, “velha política” e outros adjetivos que pipocaram por aí.

Afinal, Bolsonaro só pode errar? Não pode ter nenhum mérito político reconhecido? A nomeação do senador Ciro Nogueira (PP-PI) para a chefia da Casa Civil da Presidência da República significa um passo do presidente na direção do fortalecimento do processo político, do fortalecimento do diálogo do governo com outros Poderes e, portanto, uma evolução do exercício democrático e da estabilidade institucional.

No mundo das hashtags, é fácil postar “Ciro é Lula”, “Bolsonaro odeia centrão”. O problema é que o mundo, a política e a vida são muito mais complexos e multifacetados do que bordões digitais. Winston Churchill já resolveu esse velho dilema de todos os políticos e toda a política há muito tempo, com sua magistral frase: “Não tenho nenhum problema de mudar de opinião, desde que seja para melhor”.
Falam tanto das supostas contradições de Bolsonaro em atrair quem no passado criticou e vice-versa. Mas não foi assim que aconteceu com o presidente Fernando Henrique Cardoso e o PMDB, legenda que foi colocada para comandar o então Ministério dos Transportes “com porteira fechada”, mas antes era demonizada pelos tucanos? No governo do PT, o mesmo PMDB não foi execrado e depois admitido com a entrada de Geddel Vieira Lima no Ministério da Integração Regional e de Moreira Franco no da Aviação Civil, durante o segundo o governo Lula? E, com Dilma Rousseff, Michel Temer não foi guindado à vice-presidência?
O PT, o PSDB e também Bolsonaro em algum momento vocalizaram discursos de resistência à política. Mas em algum momento também entenderam que a Constituição e a democracia exigem algum tipo de coalizão entre o Executivo e o Legislativo. Fernando Henrique estabeleceu os seus limites. Lula os dele. Bolsonaro define que a maioria dos ministérios permanece técnico e compartilha alguns espaços bem específicos para assegurar a estabilidade política mínima necessária que todo governo precisa para fazer avançar suas agendas.

O gesto do presidente é na direção da dinâmica política, partidária e democrática. E ainda assim, como é normal, despencam críticas e chavões contra ele e seu governo pela aliança com o centrão. Então, um dia ele é golpista. No dia em que não é, torna-se velha política. Claro que há de tudo nisso, menos um mínimo de razoável equilíbrio nas análises. Ele não pode ser golpista e velha política ao mesmo tempo. E essa contradição das críticas expõe mais os que o criticam do que o criticado.
O senador Ciro Nogueira é presidente de um partido que vem ajudando na governabilidade de diversos mandatos. E quando apoiou governos anteriores não foi estigmatizado pela oposição como é agora, pelo contrário. Ao assumir a função de conselheiro político do presidente, ele não vai ajudar apenas Bolsonaro e o governo. Ele vai ajudar a política, vai ajudar a abrir canais de diálogo, a evitar crises, a distensionar e melhorar o ambiente. E isso é bom para todos, pois permite que o Brasil siga em frente com menos atritos, enfrentando e resolvendo os seus problemas reais e mantendo o prumo até as sagradas eleições.

Conclusão: o presidente não pode errar simultaneamente quando faz movimentos diametralmente opostos. Aí nesse caso o erro (provavelmente a implicância) é de quem não admite que ele não possa fazer nada a não ser errar. Mas isso não é análise. É implicância. Faz parte do jogo.

Mas que fique claro. O senador Ciro Nogueira pode ajudar muito a política no seu mais alto nível. E, se isso se consumar, é mérito do Presidente da República, gostem dele ou não.

*Mario Rosa é jornalista, consultor de comunicação e escritor.

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